segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Ser em Duo

Dizem por aí que eu sou geminiana. Dizem por aí também que como boa geminiana eu sou bipolar. Mudanças repentinas de humor. Dicotomias. Sensações que vão da alegria desmedida à tristeza intensa em um espaço-tempo de segundos tão curto que as sensações parecem coexistir.

Quer dizer, não dizem por aí. Digo eu. Por aqui. Mais que dizer – eu sinto. E, nesse intercâmbio, aquilo que pareceu a minha mais profunda decepção de repente se torna o mais inesperado bem estar. Ou melhor: são os dois juntos, se transpondo um ao outro, quase que disputando um espaço cá dentro ou uma prevalência ainda que mínima.

Tem acontecido muito por aqui. Faltando dez semanas para o meu retorno ao Brasil, faço hoje a última prova do ano. E antes da prova bato um bom papo com uma colega italiana e um colega intercambista francês. E aí vem aquela sensação de alívio por ter conseguido ler cinco livros e feito cinco provas em pouco mais de um mês, tudo em italiano. Mas vem junto aquela dorzinha por não ter mais as aulas (muitas chatas, de fato, mas muitas – as de psicologia de desenvolvimento – bem melhores que todas as que já assisti em cinco anos de Direito) que tanto me fizeram aprender o italiano, mas também sobre a vida, a família, a vida conjugal, a educação dos filhos, o papel da escola, a homossexualidade. Mas esqueço um pouco os conhecimentos e me vem aquela alegria ao me dar conta de que não preciso mais acordar cedo no frio e pegar aquele tram mais lotado do que o 020 no horário de pico. E junto vem aquele sentimento de que, sem as aulas para me obrigarem a acordar cedo, eu acordarei tarde e desperdiçarei meu tempo na Europa (pagando em euro, ressalte-se).

Também brigam por espaço dentro de mim a paixão Itália e o amor Brasil. Ontem fui à uma lanchonete chamada Energia do Brasil, onde feliz comi coxinha, empada e tomei suco de acerola, tudo em meio a bons e divertidos papos com amigos brasileiros. Hoje fui também ao Esquilino – mercado dos imigrantes onde vende coisas japonesas, indianas, brasileiras e de mil lugares do mundo – para comprar polvilho, leite ninho, leite condensado, leite de coco e farofa. Uma delícia a nossa comida brasileira. E quem nega? Mas saio do mercado e passo no café em frente à faculdade para me despedir do cappuccino com cornetto de chocolate que me entra de uma maneira deliciosa, quente e aconchegante. Ninguém nega também a delícia da pizza italiana e do cornetto e do cappuccino e do macarrão e da piadina.









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Anseio pela chegada ao Brasil em 23 de fevereiro. Mas anseio também por viver mais a Roma e conhecer mais lugares da Itália que nunca pensei em visitar mas que inesperadamente me encantam quando os visito.


Não é porque sou geminiana, né? Bipolaridades e dicotomias se fazem presente na humanidade. Não é preciso vir na Europa para senti-las. Nem é preciso ser geminiana. Basta ser.

domingo, 14 de dezembro de 2014

O (in)esperado encontro

Bologna. A cidade que me esperou por tantos meses. Encontro já certo o nosso, mas com data incerta. Entre arranjos e desarranjos, marcamos de nos encontrar na quinta-feira de 4 de dezembro. A principio temerosa pela ideia de viajar sozinha, eu ao mesmo tempo ansiava por essa oportunidade de ver a cidade de jeito diferente (um jeito só meu). Então eu fui. E fui maravilhosamente bem recepcionada pela cidade através da Via delle Belle Arti e dos que ali moram, o casal brasileiro há décadas amigo dos meus pais.

E o que vivi nos dias que se seguiram naquela cidade foi o que nem a minha amada Roma tinha conseguido me proporcionar. A começar pela sensação de me sentir em casa: eu ainda não tinha conseguido me sentir em casa na Itália, e os queridos Anselmo e Maristela conseguiram facilmente me deixar à vontade e em casa. Porque de fato não é fácil passar seis meses sem essa sensação. Então obrigada, Anselmo e Maristela, por terem me recebido de portas abertas com tanto carinho e cuidado e preocupação. Tenho 
certeza de que meus pais agradecem também.

Mas não foi só o saudosismo brasileiro. Bologna me encantou também pela sua arquitetura, seus pórticos, suas torres e seus palácios. Além da Sala Borsa, a biblioteca com que sempre sonhei: espaços chamativos, móveis coloridos, pessoal acolhedor, atividades culturais e serviços para atender a demanda de todos que a frequentam.



A comida também não deixou nenhum pouco a desejar. Macarrão à bolognesa, sorvete, waffles, cornetto, piadina. Tudo deliciosíssimo. Além, claro, dos indizíveis pratos da Maristela.



Mas o que me encantou mesmo foi viver a Bologna musical. A cidade respira história mas respira principalmente música. Em cada esquina do centro se viam as mais variadas manifestações musicais, ali, nas ruas, para quem quisesse escutar. De uma banda de instrumentos clássicos a um grupo de estudantes que cantavam animadamente musica popular e faziam das suas vozes melodia e letra. Foi também apenas em Bologna que vi a coleção mais incrível de pianos e cravos, com pinturas belíssimas que correspondiam à altura a delicadeza e magnitude desses instrumentos (a coleção Tagliavini), e os infinitos instrumentos das mais variadas épocas no Museu da Música. Além das músicas a céu aberto (ou quase aberto, por conta dos pórticos), assisti a um incrível concerto de voz e harpa no Oratório Santa Cecilia e assisti ao concerto mais inesperado e encantador da minha vida: um grupo de três homens e duas mulheres que se apresentou no Museu Cívico Medieval cantando/tocando músicas da Idade Média com (pasmem!) instrumentos da Idade Média.


Bologna de fato me surpreendeu e me presenteou. Agora, depois de quatro dias na capital romagnola, retorno a Roma. E carrego todos esses presentes cá dentro de mim.